É um fato que vivemos em uma sociedade machista. A mulher sempre esteve em segundo – ou último – plano e a luta para ganhar voz perante a sociedade para, ao menos, conseguir direitos básicos, como estudo e voto, foi longa. A mulher, vista como objeto por muitos até hoje, cumpria seu mero papel social de cozinhar, limpar, cuidar da casa e dos filhos e após isso tudo, estar linda e limpa para satisfazer o marido, isso sendo na hora que ele quisesse, se ele quisesse, como e onde ele quisesse, afinal, mulheres não merecem sentir prazer. Isso é proibido a elas. Sem contar que antes de ser taxada apenas de “esposa”, ela deveria ser “moça de família”, aprendendo os afazeres domésticos, sem sair muito de casa e se mantendo pura e casta, para quando o homem certo – para o pai dela – aparecesse, ele pudesse receber os devidos dotes para aceitá-la como mulher.
Em pleno século XXI presencio absurdos, casos que contam que as mães vivem em função dos pais, que “meu irmão não ajuda em casa e eu que faço o trabalho todo enquanto ele pode aproveitar o tempo livre”. Pesquisas feitas no começo desse ano, mostram que meninas que tem irmãos em casa (a maioria delas sendo a mais velha dentre os irmãos) tinham menos tempo para brincar, estudar e outras atividades que seus irmãos do sexo masculino. E isso nos deixa frustradas, mal, pês da vida, sabia?
Digo isso porque a cozinha do almoço aqui em casa era minha. Todo o santo dia, não importando se eu almoçasse em casa, a cozinha era minha. E meu irmão chegava da aula e cumpria a seguinte rotina: tirar o uniforme, colocar o prato de comida, subir para a sala de tv, comer lá e dormir até as seis, largando o prato onde ele bem entendesse de ficar.
Depois de um tempo, minha mãe também se cansou dessa história e resolveu que ele teria que ajudar. E que o meu direito de não lavar a louça (pelo menos nos dias em que não ficasse em casa) seria defendido por ela também.
Se todos nós moramos nesse pequenos espaço chamado casa, todos nós, TODOS NÓS, independente de qual órgão sexual tenhamos entre as pernas, temos que ajudar a mantê-lo limpo e organizado. Não é só porque ela é mãe, eu sou irmã ou porque nós somos mulheres que temos obrigação de fazer todo o trabalho de casa sozinha.
Os homens que me desculpem falar assim, mas vocês não serão menos homens se ajudarem em casa, aliás, assim como nós, não estarão fazendo mais que a obrigação. E sinceramente, também tem aquela história de “pai que cozinha, pai que cuida da casa sozinho, pai solteiro” é mais que “mãe que cozinha, mãe que cuida da casa sozinha e mãe solteira”, e não vejo sentido nenhum nisso.
Admito sim que eu largo coisas por aí, mas isso é assunto pra outro texto -e que se eu fosse escrever, talvez minha mãe sugerisse como título “falta de vergonha na cara”, mas vamos deixar isso pra depois, tipo, nunca?
Voltando, acho muito bom que as mulheres, não importando a idade, a cor, a classe social e o emprego, lutem pelo seus direitos. Pelo direito de trabalhar, pelo direito de ser respeitada como ser humano, pelo direito de sair de casa de short, andar a noite e pelo direito de não lavar a louça, afinal, já conquistamos muita coisa, porque parar agora?
Revisado por Ana Carolina Bicalho.